Os judeus espanhóis identificaram "sefared" com a Península
Ibérica e começaram a se referir a si mesmos como judeus serfaditas.
Alguns relatos lendários sugerem que a presença
judia na Península Ibérica seria dos tempos do rei Salomão (século X a.C) ou na
dispersão judia depois da destruição do Primeiro Templo em 586 a.C. Porém os
judeus chegaram a ela junto com as legiões romanas e sua presença aumentou como
resultado da conquista da Judéia e a destruição do Segundo Templo, que incluía
o Muro das Lamentações, em mãos do general romano Tito em 70 d.C. Na Carta aos
Romanos o apóstolo Paulo corrobora tal presença ai indicar seu desejo de viajar
para a Espanha para continuar com sua missão evangelizadora (Romanos
15,23-28).
Como sabemos, o apóstolo ensinava o Evangelho nas
sinagogas locais, isso quer dizer que uma presença judia relativamente
importante na Espanha para o ano 58 d.C.
A conversão dos visigodos ao catolicismo em 586 d.C marca um período de
intolerância, perseguição, conversões forçadas, expulsões e emigração para os
judeus. Pelo ao contrário, o período que começa em 711 d.C.
Com a invasão muçulmana foi de tolerância e
continuou até o fim dos reinos de taifas em 1086.
(O Islamismo concedia um status especial aos
cristãos e judeus como membros da comunidade religiosa que haviam recebido
relevações autênticas de Alá) Dimmies em árabe).
Em contraste com os cristãos que tiveram grandes
dificuldades para se adaptar ao domínio muçulmano, ao ter sido o grupo
governante antes da invasão, os judeus se adaptaram perfeitamente a nova
situação se assemelhando a cultura muçulmana e integrando-se nela sem
perder a identidade.
A mostra da influência árabe na cultura judia
inclui a adoção do árabe na escritura comunal; a aparição pela primeira vez na
história judia de poesia em hebraico de tema secular pela primeira vez na
história judaica de poesia em hebraico de tema secular em imitação de modelos
semelhantes em árabe e o descobrimento da natureza tri consonântica do hebraico
ao lhe aplicar estudos de gramática árabe.
O processo culminou com o que se deu em chamar da
"idade de ouro" da cultura judaica na Península Ibérica entre os
séculos XI e XII cujos máximos representantes foram o estadista, visir e poeta
Samuel Ha-Nagid; os poetas e filósofos Salomão Ibn Gabirol e Yehuda Halevi; o
exegeta, poeta e filósofo Abraham Ibn Erza e o médico, talmudista e filósofo
Maimónedes.
Durante os séculos XII e XIII, os reinos cristãos
toleraram aos judeus que eram portadores da cultura árabe superior por seu
domínio do idioma e forte assimilação. A partir de 1250 somente o Reino de
Granada ficou nas mãos dos muçulmanos.
A Espanha cristã, os judeus se converteram em
intermediários entre as duas culturas e tiveram um papel muito importante nas
sucessivas escolas de tradutores de Toledo.
Ainda a sabedoria do mundo clássico que havia
perdido no Ocidente com motivo das invasões bárbaras se traduziu do árabe ao
latim (século XII) e posteriormente ao castelhano (século XIII) sob a direção
de Alfonso X o Sábio.
Muitos dos colaboradores de Alfonso X eram judeus. Isso
serviu também de administradores, coletores de impostos e médicos. A alta
concentração de judeus nesses campos se devia a que os grêmios que controlavam
a maioria das profissões admitiam somente os cristãos.
No século XIV o anti-semitismo e a intransigência
cresceram progressivamente entre os cristãos. A peste negra, (foram acusados
aos judeus de envenenar os poços de água) e a guerra civil entre Pedro I e seu
meio irmão Henrique de Trastámara fizeram que o anti-semitismo aumentasse
rapidamente. O ponto de não retorno nas relações entre os cristãos e judeus se
produziu em 1391 quando as judiarias de Castilla e Aragón foram saqueadas e
incendiadas.
Os judeus tiveram que eleger entre a conversão
forçada ou a morte. Milhares deles morreram e milhares se converteram para
salvar suas vidas. As comunidades judaicas na Península nunca se recuperaram por completa.
Outra consequência dessa revolta anti judaica foi o
surgimento dos conversos ou cristãos novos, uma nova classe social. A
possibilidade de separar a esse novo grupo de conversos daqueles que não havia
ainda convertidos levou aos reis católicos a estabelecer a Inquisição,
instituição dedicada a supressão da heresia no seio da Igreja Católica, em
1478.
A inquisição como tal não temia autoridade sobre os
judeus que não se haviam convertido. Finalmente, a possibilidade de separar os
dois grupos fez que os reis Católicos emitissem em março de 1492 o edito de
expulsão dos judeus colocando fim dessa maneira a 1500 anos da presença dos
judeus na Península Ibérica.
Tal decreto ordenou a saída definitiva dos judeus
no prazo de quatro meses. Alguns decidiram se converter ao cristianismo para
evitar a expulsão e outros, talvez uns 200.000 fossem no exílio.
Inicialmente Portugal e o reino de Navarra
acolheram aos sefarditas, de onde foram expulsos em 1497 e 1498
respectivamente.
De Portugal foram ao norte da Europa (Inglaterra e
Flanders) e os de Navarra se instalaram em Bayona. A diáspora sefardita, em
sucessivas etapas (séculos XV-XVII), se estabeleceu no norte da África (Fez,
Orán, Tunez, Alexandria); o Oriente Próximo (Gaza, Jerusalém, Tiberias, Safed,
Acre, Damasco e Beirute); Itália (Génova, Ferra, Venência, Pádua,
Roma, Nápoles); los balcões e o império Otomano, onde eram felizes e com
uma grande prosperidade (Atenas, Salônica, Belgrado y
Constantinopla); o norte e o centro da Europa (Londres,
Rouen, Paris, Roterdã, Amsterdã, Hamburgo, Cracovia, Viena, Budapeste) e
finalmente as Américas. Durante o século XVIII a presença em Amsterdã de
marranos (conversos que judaizavam secretamente) procedentes de Portugal foi
muito importante. O filósofo sefardita Spinoza foi um deles. A presença
sefardita nos Estados Unidos se remonta a 1654, quando 23 judeus sefarditas
chegaram à colônia holandesa de Nova Amsterdã (atualmente Nova York) hufindo
das autoridades portugesas de Recife no Brasil em um navio de bandeira
francesa.
Ali estabeleceram a primeira sinagoga nos
Estados Unidos, a congregação Shearit Israel, conhecida popularmente como a
Sinagoga Portuguesa e Espanhola de Nova York, que segue em funcionamento até os
dias atuais.
Durante a Idade Média (1000-1492) os judeus da
Espanha formavam uma comunidade muito numerosa, talvez o 50% de total da
população judaica mundial. Porém a partir de segunda metade do século XVII sua
importância começou a diminuir.
Na atualidade somente um 10% dos judeus é de origem
sefardita.
A população judia mundial antes do Holocasusto era
de uns 16,5 milhões, dos que 15 milhões eram de origem askenazi ou
centro-europeu e somente 1,5 milhões eram sefarditas ou pertencentes a outras
comunidades não askenasis.
O declive numérico levou a um declive intelectual e
cultural. Benjamim Disrraeli (1804-1801), foi o primeiro chefe do governo judeu
na história do Reino Unido, o financeiro Moses Montefiori (1784-18811) eram de
origem sefardita.
Segundas estimações, menos de 3% dos judeus
exterminados durante o holocausto (eram entre 160.000 e 200.000) eram de origem
sefardita, o que representa 44% de tal população na Europa Durante a Segunda
Guerra Mundial nas comunidades sefarditas européia no Holanda, Itália e nos
Balcões foram aniquiladas. E 98% da população judaica de Salônica (mais de
48.000 pessoas), que constituia o epicentro da cultura serfardita, foram
exterminada.
Somente aos 50.000 judeus da Bulgária, a maioria
deles eram de origem sefardita, se salvaram como consequência da negativa de
seu governo a deportar aos judeus de nacionalidade búlgara. A população
sefardita atual pode alcançar 1,2 milhoes (o número de 3,5 milhões oferecida em
alguns meios pode incluir descendentes de conversos).
A língua dos judeus sefarditas é o judeu espanhol,
ladino. Trata-se de um fóssil linguístico mais próximo ao castelhano de
"El Quijote" (Don Quixote) que ao espanhol atual.
O ladino inclui numerosas aportações do hebraico,
turco, grego, e outras línguas como as que os judeus sefarditas entraram em
contato. Hoje em dia, o ladino é uma língua em franco retrocesso. Se fala entre
comunidades judaicas de Israel, Turquia, Bôsnia e Herzegovina. Grécia,
Macedônia, Israel, Bulgária e Marrocos.
A produção literária popular na forma de
romance.
A liturgia sefardita é diferente da askenazi em
pequenas variações na celebração da Páscoa e a festa de Sukkot ou dos
Tabérnaculos, a estrutura da sinagoga e o serviço das sinagogas e as plegarias
e o mesmo que incluem composições dos poetas espanhóis Yehuda Halevi, Moses Ibn
Ezra e Salomão Ibn Gabirol.
Também existem diferenças na pronunciação do texto
litúrgico hebraico e uma série de termos litúrgicos.
A identidade sefardita é diferente e difícil de
determinar. No judaísmo atual existem dois grandes aos grupos que já se fez
referência do passo mais acima. Trata-se dos sefarditas e os askenasis, que
eles enchem as barracas de lideranças em Israel, Brasil, Estados Unidos e
outros países com comunidades judaicas numerosas e influentes.
Porém, se classificaram dois grupos não é
satisfatório já que o termo "sefardita" se usa para designar a todos
os judeus que não são de origem centro-européia ou askenazi. Existem numerosas
comunidades que procedem do Oriente Médio Próximo e em especial de países
árabes que não tem relação alguma com a Espanha e Portugal.
A confusão se remonta ao Mandato Britânico
(1917-1948), quando se estabeleceu um rabinato dual sefardita-askenazi. De
maneira que todas as comunidades orientais ou mizrajies passaram a estar
representadas pelas autoridades rabínicas sefarditas. Assim se criou uma
confusão semântica em torno ao termo "sefardim", que passou designar
comunidades muito diferentes origens.
Esta confusão pode se dever a que todas essas
comunidades com a exceção dos judeus yemenies que mantiveram isolados até o
século XX seguiam (e seguem) a liturgia sefardita.
O rabinato dual seguiu com o estabelecimento do
Estado de Israel. Devido a movimentos migratórios massivos e a uma alta taixa
de natalidade, as comunidades judaicas de origem oriental experimentaram um
grande crescimento em Israel durante a segunda metade do século XX, enquanto
que somente a minoria dos imigrantes não askenasis, aqueles procedentes da
Bulgária, Grécia, Turquia, Egito e o Magreb, são realmente sefarditas, isso
quer dizer, descendentes de judeus portugueses e espanhóis cuja língua é o
ladino.
De maneira que se podia dizer que existe uma série de elementos que conformam
que a identidade sefardita. Entre os mais relevantes seriam os tipos
geográficos (sua origem na Península Ibérica), o linguístico (o uso do ladino
em todas suas variantes) e o folclórico (o uso de antigos provérbios e melodias
e canções de Portugal e Espanha).
Elementos mais difusos como o "Castillo" e em pratos tipicos
da cozinha ibérica tais como o "pastel", uma espécie de pastel de
carne, e o "pão da Espanha" ou "pan de León", um biscoito
que se come na Páscoa.
Ao interior havia que adicionar outros elementos
mais diferentes de caráter psicológico e social: os judeus sefarditas,
como sabemos são tanto aqueles que vivem em um grande número de países como
aquelas cujas famílias permeceram em Israel por muitas gerações. Um sentimento
unificador que compartem é a perda e saudade de Sefarade.
A tradição espanhola considera como sobrenomes
próprios dos judeus aqueles de caráter toponímico (Avila, Córdoba, Franco,
Lugo...) que designam profissões (Guerreiro, Barbero, Cubero, Zapateiro,
Ferrer, Ballesteros...) ou aqueles que tiram uma qualidade física ou psíquica
(Cano, Moreno, Pardo, Rubio,).
Porém é muito difícil atribuir uma exclusiva um
sobrenome dessas características a uma determinada religião. Muitos dos
sobrenomes sefarditas estão associados com pessoas e famílias cristãs.
E o que é mais frequentemente aos judeus sefarditas
utiliza nomes de origem hebraica ou árabe que não existem na Península Ibérica.
Finalmente, depois de 1492 muitos marranos mudaram seus apelidos para esconder
sua origem judaica e evitar perseguições.
Era prática comum adotar o nome da igreja na qual
foram batizados (Santa Cruz, Santamaria) ou a palavra "Messias"
(Salvador) ou inclusive o sobrenome do cristão velho que os apadrinhava
"Mendoza (Mendonça) da Cavalaria...".
Abraham B. Yeshohua, o renomeado escrito israelita
de origem sefardita, em seu articulo Beyound Folklore: The Identify os
Sephardic Jew, sugere que identidade sefardita contêm três componentes:
cristãos, muçulmano e judeu. Esses três elementos estariam misturados de forma
inseparável na lembrança de uma assombrosa simbiosos cultural. A
identidade sefardita estaria relacionada com a inclusão do "Outro"
inclusive esteja desaparecida e ficou esquecida e constituiria algo assim como
um "gene cultural".
Segundo Yehoshua, essa melancolia o nostalgia pelo
"o Outro" ainda quando já não esteja presentes se havia transmitido
de geração em geração por centenas de anos e havia feito que os sefarditas fossem
mais tolerantes em comparação com os judeus askenases.
Uma exígua minotia de sefarditas que estiveram em
condições de traçar documentalmente sua ascendência poderia demonstrar de forma
irrefutável sua origem sefardita desde um ponto de vista legal. Porém, a
identidade abarca isso e muitos mais.
Tem que ver os fatores psicológicos e sociais como
os identificados no artigo de Yohoshua. Tais fatores não são por definições
tangíveis e não pode provar documentalmente.
Durante a Idade Média, a Península Ibérica foi o centro intelectual do
Ocidente e atraiu a estudiosos, filósofos e poetas de todos os rincões do mundo
então conhecido.
A atração se baseou na existência de uma cultura superior (a muçulmana)
e uma língua franca (o árabe), junto com um interesse genuíno pelo o saber e
espírito de tolerância. É precisamente isso que os sefarditas anseiam e a razão
de um sentimento de perda.
De maneira que o melhor tributo que se possa saber aos sefarditas é o de
educar os povos sobre a bagagem cultura que mais de um milênio de vida judaica
em Sefarad deixou na Península.
A criação de centros de uma cadeira de estudos
sefarditas contribuíra em grande medida a compensar a queixa que se cometeu há
mais de quinhentos anos com os judeus portugueses e espanhóis.
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